Este artigo foi escrito e publicado por Renato Ghelfi para o Diário Comércio Indústria & Serviços. Você pode encontrar a publicação original aqui.
São Paulo - O empresário Mauricio Macri, recém-eleito presidente da Argentina, promete abrir o mercado local para estrangeiros. Com melhoras em logística e regulamentação previstas pelo mandatário, a inserção de empresas brasileiras de menor porte deve aumentar.
A vitória da oposição na Argentina, conquistada no último domingo, foi bem recebida por executivos do outro lado da fronteira. André Favero, diretor de negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), foi assertivo: "as pequenas empresas daqui podem ser muito favorecidas [com a mudança no governo] e devem conquistar mais espaço".
Favero afirmou que "poderão ser melhorados termos logísticos e regulamentares, de normas, na Argentina". E, com essas mudanças, "o já intenso fluxo comercial" poderá crescer. O especialista destacou também que está surgindo "um ambiente muito propício para o aumento das trocas e do investimento entre os países".
Atualmente, Brasil e Argentina são duas das nações mais fechadas para trocas com estrangeiros, com exportações representando 11,5% e 14,9% do Produto Interno Bruto (PIB), respectivamente. A maioria dos países emergentes, como Índia (23,6%) e África do Sul (31,3%), e latino americanos, como o Chile (33,8%) e Peru (22,3%), acumulam taxas maiores. Os dados são do Banco Mundial.
Sobre as mudanças na Argentina, Sérgio Frota, vice-presidente do World Trade Center (WTC) no Brasil, disse que já estão sendo discutidas "oportunidades reais de investimento" e que "as empresas estão se interessando e querem fazer negócios no país". O executivo contou que os representantes do WTC de Buenos Aires "conseguem, agora, ter um ânimo maior em termos de relações comerciais com estrangeiros".
Seguiu o mesmo raciocínio Fredson Justo, sócio diretor da TMF Group, empresa que auxilia companhias em busca de internacionalização: "a entrada do Macri deve facilitar o investimento de companhias internacionais na Argentina, que é o segundo país mais procurado por empresas brasileiras".
Justo também comentou que "com uma política cambial e uma política econômica melhores, vai ficar mais fácil investir na Argentina". Para ele, "regras mais claras e maior estabilidade darão mais segurança para empresários que busquem o país".
Segundo ranking elaborado pela própria TMF, a Argentina é o país mais difícil para as empresas estrangeiras operarem, seguida por Brasil e Bolívia. A lista elenca 81 jurisdições de acordo com sua complexidade para fazer negócios, a partir da perspectiva de regulamentação e conformidade. Na ponta oposta, entre as nações em que é mais fácil investir, aparecem Hong Kong, Irlanda e Porto Rico.
Ainda sobre o resultado das eleições na Argentina, Horácio Borja, embaixador equatoriano no Brasil, falou: "quanto maior a abertura econômica e o contato entre os países latino-americanos, melhor vai ser o combate contra a crise econômica na região".
A autoridade comentou que "há alguns anos as nações do continente buscavam apenas o comércio exterior com os Estados Unidos e a Europa" e destacou que "a América Latina percebeu que pode se ajudar e avançar como um conjunto".
Mercosul
Pouco depois de eleito, Mauricio Macri declarou que vai pedir a aplicação da cláusula democrática contra a Venezuela "pelos abusos na perseguição aos opositores e à liberdade de expressão". Com a medida, os venezuelanos poderão ser suspensos do Mercosul, bloco continental em que também estão brasileiros, argentinos, paraguaios e uruguaios.
Borja repercutiu a notícia e defendeu o país governado por Nicolás Maduro: "houve mais de dez eleições democráticas nesse período [desde a posse de Hugo Chávez], com grande participação popular. Teremos mais uma votação em breve e o presidente disse que vai respeitar os resultados".
Entretanto, Daniel Rivera, assessor de fusões e aquisições da Elit Capital, tem ponto de vista diferente. Depois de lembrar da prisão do opositor Leopoldo López, ele afirmou que a Venezuela "precisa fazer um trabalho muito grande para reverter a situação atual, precisa de mais democracia no país".
Rivera acredita que Macri terá um papel importante "na recuperação e no desenvolvimento da América Latina" e que seu governo não tolerará "atitudes autoritárias por parte de parceiros comerciais".
Todos os especialistas entrevistados para esta matéria participaram, ontem, do evento "Latam for Business", promovido pelo WTC São Paulo Business Club.