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Publicado
26 janeiro 2023
Tempo de leitura
6 minutos

O financiamento de projetos enfrenta o desafio da expansão

3 colleagues working in a room next to the window discussing with devices and calculator on the desk

Transações menores estão se tornando mais comuns na atual era de financiamento de projetos, impactadas pelo foco nas práticas de ESG. Ainda que haja uma menor quantidade de projetos maiores e de maior prestígio sendo realizados, o número crescente de negócios decorrentes das mudanças geopolíticas representa oportunidades em todos os setores.

O financiamento de projetos está enfrentando grandes reviravoltas em alguns dos macro temas mais importantes que têm impulsionado o setor há décadas. Um exemplo disto é que, em muitos tipos de financiamento de projetos – como o de produção de energia – no lugar de desenvolver projetos mais importantes e cada vez maiores, a priorização de negócios liderados pelas práticas de ESG resultou em um número maior de negócios, porém de menor impacto.

De muitas maneiras, esta distribuição de investimento ajuda patrocinadores e investidores a diversificar o risco de seus portfólios, mas acrescenta complexidade e custo ao exigir mais trabalho para distribuir a mesma quantidade de capital para trabalhar em mais projetos. Além disso, adiciona desafios sob uma perspectiva administrativa e regulatória, com a necessidade de recorrer a parceiros como agentes de garantias para fornecerem suporte às empresas que trabalham com um grande portfólio de negócios que abrange diferentes parceiros em diferentes negócios.

Esta expansão ajuda a explicar a diversificação geográfica dos players da indústria. Velhas regras, com certas jurisdições dominadas por investidores de um determinado país e/ou tipo, estão sendo extintas. A crescente ambição da China em interferir no mercado global adiciona complexidade e textura a estas tendências, com a iniciativa Belt and Road resultando em capital chinês competindo em áreas que os investidores ocidentais tradicionalmente dominavam. Alguns investidores tentaram fazer parte deste movimento quando a China entrou em novos mercados, com o objetivo de formar novos consórcios e parcerias, mas o progresso foi lento. De maneira geral, as empresas chinesas ainda preferem estratégias unilaterais de construção e financiamento de projetos.

Esta falta de envolvimento sino-europeu levou a uma crescente participação do mercado chinês no mercado europeu e, devido ao seu perfil de marca autoconfiante, eles estão desempenhando um papel decisivo. Bancos e empresas de construção chinesas, juntamente com investidores, desenvolvedores, fabricantes e até serviços públicos chineses, já estão presentes nos mercados europeus há muito tempo. Esta expansão chinesa ameaça ultrapassar os bancos e investidores da Europa Ocidental – e até mesmo, levá-los a serem retirados de certos setores. Em resposta, estes investidores e patrocinadores europeus e internacionais passaram por uma intensa exploração de novos países. Como exemplo desta manobra, observa-se que as empresas espanholas têm visivelmente aumentado sua presença na África e têm utilizado sua expertise em sustentabilidade para desenvolver suas relações com governos e reguladores do continente.

No entanto, embora existam algumas discrepâncias na Europa em busca de novos financiamentos para projetos, há muitos players que demoraram para se manifestar. O setor público europeu – um catalisador crucial para a expansão internacional do financiamento de projetos – geralmente tem sido lento para coordenar uma estratégia coerente para o envolvimento internacional com novos mercados. Os governos, talvez preocupados com inúmeros outros desafios, deixaram de lado a visão de longo prazo que sustenta o financiamento de projetos.

Algumas empresas e bancos europeus têm procurado contornar completamente os desafios governamentais tradicionais, estabelecendo consórcios internacionais que, fundamentalmente, visam atrair bancos de desenvolvimento multilaterais para atuarem junto ao capital privado para reduzir o custo e o risco totais.

Alan Ross Commercial Director na TMF Group

O setor privado se encarregou de tomar a iniciativa. Os bancos alemães e franceses estão progredindo, mas sem o impacto catalisador dos governos, de modo que a eficácia de suas intenções foi reduzida. Enquanto isso, os bancos japoneses continuam firmando parcerias com entidades europeias – fornecendo uma valiosa liquidez aos sindicatos – mas permanecem hesitantes em liderar.

Talvez a região que perceberá as múltiplas forças que impulsionam a expansão a atuar de maneira mais direta seja a América Latina. No entanto, esta previsão deve ser acompanhada de uma importante ressalva: enquanto a região parece destinada a uma enorme onda de projetos menores apoiados por patrocinadores e financiadores de todo o mundo, criando oportunidades para novos consórcios do setor privado que atraem organizações nacionais e internacionais, ainda há uma grande incerteza.

Karla Fernandes Managing Director na TMF Brasil

No Brasil, a volta do presidente Lula traz muito otimismo com relação a novas oportunidades, mas ele é atenuado em função da cautela com relação à estabilidade macroeconômica de quem investe no país a médio e longo prazo. Há uma lista enorme de projetos a serem realizados e o desejo da América do Norte, Europa e Ásia (incluindo a China) parece ser intenso, mas ainda há questões importantes a serem respondidas antes do início do andamento das negociações e dos fluxos de capital. Possivelmente, a maior questão deve ser: Qual será o papel do banco de desenvolvimento do país, o BNDES, no desenvolvimento de projetos de infraestrutura? O novo presidente do banco estatal manifestou o desejo de elevar o nível de gastos para 2% do PIB. Os financiadores do setor privado temem que esta medida “afaste” tanto os empréstimos bancários quanto os financiamentos do mercado de capitais local, à medida que o BNDES retorna a um papel dominante e subsidiado no setor. Outros acham que as realidades políticas e fiscais apresentarão um retorno total ao financiamento público de projetos no Brasil e uma abordagem combinada não será apenas a mais prática, mas também o modelo ideal.

Outra questão importante gira em torno do banco BRICS (agora conhecido como NDB). Se ela entrar em evidência, como o NDB se envolverá com o setor privado nestes países e qual será seu apetite por capital e risco?

No entanto, ainda que o Brasil seja o maior mercado da América Latina, não será o único mercado atrativo na região. O México está recebendo grandes fluxos de investimentos estrangeiros diretos (IEDs) da Ásia e dos EUA, à medida que a tendência de nearshoring ganha força, e este movimento fomentará uma demanda por novos projetos mexicanos em vários setores. Petróleo, gás e energias renováveis representam uma grande oportunidade, dependendo dos resultados das eleições presidenciais de julho do ano que vem. O Chile, a Colômbia e o Peru também possuem capacidade e necessidades de curto prazo, e a Argentina é o principal desejo do setor de financiamento de projetos.

Esta é potencialmente uma era muito empolgante para o ramo de financiamento de projetos, mas desafiadora para os participantes que planejam agir de maneira escalar. Em vez disso, o desafio será aproveitar os benefícios da diversificação de riscos à medida que muitos segmentos se expandem e, ao mesmo tempo, ser capaz de implementar e administrar o capital com eficiência. Na TMF Group, acreditamos que novas parcerias dentro do mercado, novas formas de compartilhamento de conhecimento e novas estratégias de trabalho multilaterais serão vitais para lidar satisfatoriamente com este importante desafio.

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